Contribuições da Psicologia para pessoas com hipertensão
- Matheus F. Barbosa

- 13 de mar. de 2021
- 4 min de leitura
Como nós sabemos, o mundo moderno exige cada vez mais das pessoas. Todos os dias conhecemos estressores de todas as sortes cujo manejo precisamos alocar na lista de conhecimentos essenciais que o ser humano contemporâneo precisa dominar para experienciar o nosso atual modo de vida: como ser produtivo, ter sucesso, desenvoltura, dinheiro... sossego, etc. E é bastante irônico notar que estes fins têm seus significados anulados uma vez que para consegui-los é necessário um esforço que elimina qualquer possibilidade os alcançar. Diariamente nós “esquentamos a cabeça” em busca de tranquilidade. Para termos sucesso, abdicamos da saúde. Se temos tempo, não temos dinheiro. No modo de vida atual não dá para ser diferente. É uma condição que nos é imposta.
Para completar este contexto: a expectativa de vida aumenta cada vez mais no mundo inteiro e é inerente que nas populações de idade mais avançada a fragilidade na saúde se faça presente. Uma das doenças crônicas mais comuns que aflige todas as idades, mas especialmente no público de mais velho, é a hipertensão. Podendo levar à morte, seus sintomas estão tão enraizados no nosso cotidiano que houve uma dessensibilização a seu respeito. Dores de cabeça no fim do dia são normalizadas, consequência do esforço feito no trabalho, na escola e com a família. Há até quem se orgulhe. Faltas de ar são justificadas pela ansiedade, que é outra doença da moda. Se a vista está embaçada, supõe-se que deva ser por causa da tela do computador ou da televisão. Muitas vezes a verdadeira causa é negligenciada.
Em suma, são os sintomas da hipertensão:
• Dores de cabeça.
• Falta de Ar.
• Visão turva.
• Tontura.
• Dores no peito.
• Zumbido no ouvido.
Em pesquisas recentes, os cuidados psicológicos têm se mostrado muito eficazes no combate à pressão alta, e dezenas de artigos científicos sugerem que o tratamento da doença ocorra de maneira multidisciplinar. A terapia cognitiva é uma forte redutora do estresse, que é intimamente relacionado à hipertensão. Associada ao tratamento medicamentoso, a Psicologia reduz o os sintomas da doença e promove melhor qualidade de vida através da mudança cognitiva e do manejo dos estressores sociais.
Como a psicologia ajuda os hipertensos.
Primeiro, é importante salientar que a Psicologia não trata a hipertensão em si, e sim o indivíduo que sofre com essa enfermidade; resultando no impacto positivo contra a doença unilateralmente. As sessões de psicoterapia atenuam os fatores que fortalecem a hipertensão, e esta por sua vez também ameniza.
A TCC (terapia cognitivo comportamental) trabalha com os modelos cognitivos. Muito resumidamente, a hipótese – comprovada cientificamente, diga-se de passagem – sugere que os nossos pensamentos são responsáveis pelos sentimentos e emoções que experienciamos. Nem sempre tais pensamentos são facilmente perceptíveis, o que implica numa necessidade de treinamento para identificá-los e respondê-los. Os pensamentos por sua vez são determinados por crenças que aprendemos no decorrer da vida baseadas em interpretações de eventos vividos. Ou seja: As experiências que você viveu te fazem acreditar determinadas coisas sobre você mesmo ou sobre os outros; e em certas situações essas crenças trarão pensamentos automáticos que lhe farão sentir de uma específica.
Ficou claro?
Tá, mas e a hipertensão?
O processo psicoterapêutico resulta numa espécie de reestruturação cognitiva, ou mudança no modo de pensar, interpretar eventos, analisar e ressignificar situações; e existem muitas técnicas que a psicologia oferece que ajudam as pessoas a se organizarem, resolver problemas, alcançar a resiliência, aumentar o autoconhecimento e estes processos reduzem o estresse e implementam o manejo dos estressores sociais, assim diminuindo os níveis de certos neurotransmissores como o cortisol, que aumenta o estresse e consequentemente a hipertensão.
Um estudo de Malagris e outros autores (2009) revela os efeitos biológicos do “Treino de Redução de Estresse de Lipp”, que é pautado na terapia cognitivo comportamental. Os sujeitos participantes do experimento tiveram “alterações biológicas favoráveis ao nível de transporte celular do aminoácido L-arginina”. Este aminoácido é basilar para a produção do NO, um gás vasodilatador que é reduzido biologicamente em pacientes hipertensos. Logo, o treinamento cognitivo comportamental anti estresse possibilita um importante tratamento secundário aliado ao medicamentoso, para pacientes hipertensos. A psicologia também assimilou técnicas mais “físicas” – geralmente relacionadas a respiração – que colaboram para o manejo de pressão alta e outras doenças crônicas.
O objetivo deste texto foi evidenciar a diferentes possibilidades dentro da psicologia para tratamentos e resultados positivos no combate a hipertensão. Procure sempre um médico ao sentir os sintomas, e alie um psicólogo no tratamento multidisciplinar da hipertensão, uma vez que os ganhos serão para além da patologia.
Referências:
LIMA-SILVA, Thais Bento; YASSUDA, Monica Sanches. Treino cognitivo e intervenção psicoeducativa para indivíduos hipertensos: efeitos na cognição. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre , v. 25, n. 1, p. 30-40, 2012 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722012000100005&lng=en&nrm=iso>. acesso em 10 Mar. 2021. https://doi.org/10.1590/S0102-79722012000100005.
MALAGRIS, Lucia Emmanoel Novaes et al . Evidências biológicas do treino de controle do stress em pacientes com hipertensão. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre , v. 22, n. 1, p. 60-68, 2009 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-79722009000100009&lng=en&nrm=iso>. acesso em 10 Mar. 2021. https://doi.org/10.1590/S0102-79722009000100009.
PUGLIESE, Rita et al . Eficácia de uma intervenção psicológica no estilo de vida para redução do risco coronariano. Arq. Bras. Cardiol., São Paulo , v. 89, n. 4, p. 225-230, Oct. 2007 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0066-782X2007001600003&lng=en&nrm=iso>. acesso em 10 Mar. 2021. http://dx.doi.org/10.1590/S0066-782X2007001600003.




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