O que a meditação e a psicologia cognitiva têm em comum?
- Matheus F. Barbosa

- 16 de mai. de 2021
- 3 min de leitura
Na faculdade, eu sempre me perguntava porque os psicólogos falavam tanto de meditação e mindfulness. Sendo a psicologia uma ciência e profissão, porque tais práticas místicas estavam associadas a ela? Bem, depois de um pouco de pesquisa, aprendi que a coisa não era bem assim e que a meditação não tinha muito de metafísico. Aliás, a prática tinha semelhanças fortes com alguns conceitos da psicologia cognitiva que eu adorava tanto.
Recentemente venho acompanhando algumas lives de um psicólogo que reside na cidade vizinha à minha – e que em outras oportunidades pude acompanhar seu trabalho em palestras durante a graduação e em obras como “Carl Rogers no Brasil” – que diariamente oferece transmissões onde realiza meditação guiada. Trata-se de Eduardo Bandeira (@eduardo.bandeiraa). E nesses encontros virtuais pude compreender melhor a relação da prática de mindfulness (inglês: a plena atenção) com a psicologia cognitiva.
A começar, devemos ter em mente que a prática da meditação não é necessariamente um rito religioso (mas que pode ser usado para tal), que objetiva observar o fluxo de pensamento; diferente das crenças populares que acham que meditar é “esvaziar a mente e não pensar em nada”. Isso seria impossível, porque a mente é um fluxo contínuo involuntário de ideias e parafraseando Eduardo, “a mente só para quando morremos, ainda assim tem uns que nem nisso acreditam”.
Então, após alguns minutos de um processo minucioso de relaxamento do corpo começa-se a observar os pensamentos e a transição de um pensamento para o outro. Usa-se a metáfora de que esses fluxos de ideias são como macaquinhos pulando de galho em galho, em constante movimento. A meditação é um exercício contemplativo das ideias.
Tá, e o que isso tem a ver com a Psicologia Cognitiva?
A TCC (Terapia Cognitivo Comportamental) está embasada – entre outros assuntos – na teoria do modelo cognitivo, que inclusive é um tema recorrente nos textos que venho postando. Trata-se do princípio de que as nossas ações e modo como nos sentimos (felizes, tristes, angustiados, alegres, nostálgicos, etc.) são advindos dos pensamentos automáticos que irrompem o nosso fluxo involuntário de pensamentos; e esses pensamentos são frutos de crenças e aprendizados das nossas experiências pregressas. Um dos trabalhos psicoterápicos da linha da psicologia cognitiva é identificar esses pensamentos – quando disfuncionais – e corrigi-los através de uma diversidade de estratégias comprovadas eficazes e saudáveis cientificamente (porque lembrem-se, amigos, Psicologia é ciência!). E eu percebo que algumas pessoas têm um pouco de dificuldade de fazer essa tarefa no início da terapia, porque embora seja uma ação simples, requer um nível de atenção bastante elevado.
Logo, eu me dei conta de que as pessoas que meditam e passam pelo processo de psicoterapia cognitiva basicamente fazem a mesma coisa.
Psicoterapia e meditação são uma prática só? Não! E eu explico o porquê. Apesar de ambas seguirem o mesmo percurso (de observar o pensamento), os objetivos são um pouco diferentes (ambos benéficos). A meditação procura trazer um estado de relaxamento enquanto a psicoterapia cognitiva tenta corrigir as distorções no aprendizado das experiências que podem causar uma série de males e doenças psicológicas.
Além disso, a meditação é mais concentrada em suas próprias ações, enquanto a psicologia usa a observação das ideias de maneira mais dinâmica para que outro ponto seja alcançado. Isso não significa que uma prática invalide a outra. Pelo contrário, o ideal seria conciliar as duas condutas porque um processo facilita o outro e os ganhos são diferentes. Para quem se interessou, fica a dica de tentar – através de qualquer uma ou de ambas as práticas – treinar a percepção dos pensamentos.
Meditação e Psicologia Cognitiva significam atenção plena!




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