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Precauções acerca da escuta disponibilizada, principalmente durante o setembro amarelo.

  • Foto do escritor: Matheus F. Barbosa
    Matheus F. Barbosa
  • 13 de mar. de 2021
  • 5 min de leitura

Antes de mais nada eu quero deixar claro que a mobilização causada pela campanha do Setembro Amarelo, que desperta nas pessoas a empatia, a conscientização e a solidariedade é fundamental e tem o meu total apoio. Nos momentos de crise, ter um amigo ou uma pessoa de confiança para poder contar pode literalmente salvar uma vida. Dito isto, eu proponho a partir deste texto uma reflexão: Muito se vê nas redes sociais, pessoas que principalmente durante o mês de setembro disponibilizam a sua escuta para aqueles que passam por momentos tenebrosos na depressão, especialmente com ideação de tirar a própria vida. Apesar das excelentes intensões, será que não deveríamos – como quase tudo na vida – ter cuidado com essas escutas? Repito: acho esse tipo de movimento valoroso e não o abomino. Apenas proponho certas precauções. Esse texto é direcionado tanto para os que procuram por acolhimento, tanto para os que o oferece. Que o façam com responsabilidade.

As vezes a disseminação da ideia é mais rápida do que o seu entendimento/propósito. Isso quer dizer que nem todo mundo que se dispõe a ouvir os outros entende que a escuta ativa é a ferramenta necessária nas situações de emergência. Então, o primeiro cuidado que devemos ter é a atenção com as pessoas que, até por desaviso, oferecem palavras inadequadas e julgamento involuntário. A ultima coisa que um indivíduo em situação de risco precisa ouvir é que aquilo é frescura, ou que está apenas tentando chamar atenção dos outros, que é coisa de louco, etc. E eu acredito que infelizmente, essas ainda sejam as primeiras coisas que se passam pela cabeça dos despreparados. Tem ainda os que falam besteiras como “a vida é tão bela, por que você não é feliz? ” ou “Mas você tem de tudo! ”. Se você já passou pela experiência dura de ouvir tais dizeres, saiba que essas pessoas não sabem o que dizem e que você definitivamente não é o problema. Afinal, o que tem demais por exemplo, em precisar de atenção, como dizem esses juízes do comportamento alheio? Nossa força reside exatamente no reconhecimento das nossas necessidades para que possamos buscar o que é melhor para nós.

O segundo cuidado é que ainda por questões de despreparo, essas pessoas podem “se cansar”. Há todo um preparo para fazer o acolhimento de alguém em situação de vulnerabilidade, incluindo o não julgamento, a escuta ativa e principalmente a disposição para fazê-los. Algumas pessoas podem, mesmo sem perceber, agir de modo a deixar implícito que já estão de saco cheio da situação, causando sentimento de culpa em quem já está bastante debilitado. Isto é, um oferecimento de apoio, que na verdade não é sólido: é efêmero, com prazo de validade. Não duvido que algumas pessoas ofereçam auxilio apenas como autopromoção, de maneira leviana. Então muito cuidado com esse tipo de escuta também.

O terceiro fator é parecido com o supracitado, mas é possível que nem sempre que se precise haja disponibilidade para ser ouvido. Seja pelo calor dos compromissos cotidianos dessas pessoas, seja pelos próprios problemas, por cansaço e outra série de fatores diferentes. Numa situação real de emergência, este pode ser um indicativo de que o melhor a se fazer é buscar um tipo de ajuda mais especializada como o CVV. Mais informações sobre no final do texto.

O quarto cuidado tem a ver com pessoas que realmente têm boas intensões, e apesar de fazer um bom acolhimento, acabam sugerindo “soluções” inadequadas. É muito comum ouvir “apegue-se mais com Deus” ou que mesmo não querendo dizer que a pessoa é desocupada ou coisa do tipo, sugere que é falta de trabalho, ou do que fazer. Eventualmente, engajar-se em algumas atividades pode vir a ser benéfico para uma pessoa com depressão. Mas há de se considerar o momento adequado (me refiro à quando o depressivo tem condições de realizar qualquer tarefa que seja) e a maneira de fazer a sugestão. Falando nisso, a quinta precaução é justamente na maneira de falar com a pessoa. Lembre-se que a situação é delicada. As partes precisam compreender que quem busca acolhimento está hipersensibilizado, logo há de se ter cuidado com o conteúdo e a forma do que se diz para que não haja nenhum tipo de desentendimento que possa levar a pôr em risco a vida.


Por fim, sobre o sexto cuidado a ser tomado, precisamos ter noção que algumas pessoas podem oferecer sua escuta para fins de mera curiosidade. Isso tem a ver um pouco com o que já foi dito antes sobre tomar decisões levianamente, mas neste caso em específico o sigilo sobre o que foi dito por estar em cheque.

Levados todos estes pontos em consideração, reitero que, caso você possua apoio da sua família, de amigos ou pessoas de confiança, é muito importante contar com eles nos seus momentos de necessidade. Mas a confiança é a palavra-chave sobre alguém com quem possamos compartilhar informações tão delicadas sobre a nossa vida; e não a qualquer desavisado que apareça apenas em setembro. Portanto, novamente, cuidado!


Quero deixar também informações relevantes acerca de possibilidades a serem consideradas nos momentos de maior angústia, quando se sente necessidade de falar com alguém, quando se está em desespero e nos momentos onde se pensa que não há mais saída. Lembre-se que você é muito importante para alguém, e que os pensamentos ruins que você possa ter são causados por uma série de cognições ruins em cadeia; que te fazem sentir esse desespero que inebria o pensamento lógico e a tomada de boas decisões. Sempre há uma saída melhor que o suicídio. Sempre.


𝐂𝐕𝐕: O Centro de Valorização da Vida é um órgão em parceria com o SUS, que disponibiliza de forma gratuita através do telefone 188 ou via Skype e chat através do website www.cvv.org.br; pessoas capacitadas para um atendimento eficaz, acolhendo os que precisam de ajuda nos momentos mais sérios de angustia. O fazem com total sigilo.


𝐂𝐀𝐏𝐒: O Centro de Atenção Psicossocial é um órgão também vinculado ao SUS, que está disponível em todas as regiões do Brasil. Verifique o endereço do CAPS da sua cidade, ou da cidade mais próxima e solicite por ajuda. Lá você pode encontrar acolhimento, atendimento psicológico, psiquiátrico e uma série de outras maneiras que lhe podem ser úteis.

Então, para ajudar de fato alguém que precise caso você não tenha o preparo necessário, indique as ferramentas acima para pessoas em vulnerabilidade. Se for oferecer sua escuta, faça-a de forma consciente e responsável e espalhe o propósito do Setembro Amarelo, que é a tomada de consciência acerca da importância de ajudar pessoas com ideação suicida, percebendo e prevenindo as tentativas, zelando pela sua qualidade de vida o quanto possível e (se) educando sobre como a depressão é uma doença séria que pode tirar vidas. Se você gostou, por favor, compartilhe esse texto.

 
 
 

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