Transtornos de Ansiedade
- Matheus F. Barbosa

- 9 de ago. de 2021
- 3 min de leitura
Todas as sensações que conhecemos possuem uma função biológica. A ansiedade é a manifestação psicofisiológica de um desconforto relacionado a uma situação qual o sujeito está inserido. Quando ela se manifesta de maneira disfuncional, associado ao primeiro sintoma podem acontecer sudorese, taquicardia, tremores no corpo, inquietação, dificuldade de concentração, sensação de cansaço e muitas outras manifestações cujo repertório é de domínio popular. Apesar da agressividade sintomática, ela tem o objetivo de nos alertar para algum “perigo” para que possamos reagir numa situação de necessidade (se pensarmos em termos de evolução e adaptação animal). Aplicada aos dias de hoje, os níveis controlados de ansiedade nos movem, por exemplo, a tomar as certificações necessárias de que acordaremos no horário correto para trabalhar, ou, redobrar a nossa atenção no trânsito, etc.
A grande questão é que hoje em dia nota-se que a presença dos sintomas ansiosos está cada vez mais disfuncional na população de todas as idades. E para entendermos quando a presença deste estimulante comum passa a ser doentia, existem dois tipos de resposta: A relacionada a qualidade de vida e a biológica. Sobre a primeira, há de se considerar que o limite do que é normal versus o que é patológico é o quanto aquele estímulo incomoda e traz limitações para as atividades cotidianas do sujeito. O cruzamento deste limiar pode sugerir a procura por um profissional da saúde qualificado para tratar o problema.
Já a resposta biológica exige que pensemos um pouco mais em termos evolutivos. Imagine que nossos ancestrais, nas cavernas, precisavam da ansiedade para ficarem vigilantes em situações potenciais de perigo: animais noturnos, cuidados relacionados à caça, identificação de alimentos venenosos, etc. Esse tipo questão não existe mais na idade contemporânea, de modo que é como se o nosso organismo estivesse desadaptado a responder com ansiedade quando fosse preciso. Hoje, algumas das principais situações em que precisamos estar alertas são principalmente o trabalho e as relações sociais. E estes “problemas” se estendem quase que vitaliciamente nos sujeitos dos tempos modernos, dando margem para que o corpo esteja sempre nesse estado de hipervigilância que exaure as nossas energias. Um exemplo final para ilustrar a desadaptação: Se nosso corpo foi programado para reagir com luta ou fuga as ameaças pontuais da idade da pedra, como podemos hoje em dia entrar em combate literal com nossos empregos?
Apesar da raiz ser apenas uma, os transtornos de ansiedade são muitos e totalmente diferentes uns dos outros. Um dos mais conhecidos é o TAG – Transtorno de Ansiedade Generalizada, que basicamente é um conjunto de sintomas que causa sofrimento e comprometimento das atividades diárias, preocupações excessivas, irritabilidade, cansaço, insônia, tensão muscular e outros sintomas clássicos da doença. Quando a intensidade ansiosa é extremamente elevada, episódios de automutilação e outras autoagressões físicas geralmente acontecem, e podem até serem confundidos com tiques nervosos.
Há ainda a fobia social e o mutismo seletivo que são o medo injustificado de interagir com outras pessoas e frequentar espaços populosos; e a incapacidade de responder adequadamente alguém, ou iniciar uma conversa. A agorafobia impossibilita que o indivíduo frequente locais que acredita não serem seguros (psicologicamente falando) o suficiente. O transtorno de estresse pós-traumático e a síndrome do pânico se parecem um pouco. A diferença é que o segundo não precisa de estímulos similares aos de um evento traumático prévio que provoque o pico de ansiedade. Uma característica presente é a sensação plena de que se está morrendo no transtorno de pânico. Existem também as fobias específicas (lembrem das desadaptações evolutivas) de animais, lugares altos, locais fechados, etc. O TOC - Transtorno Obsessivo Compulsivo é um dos mais intrigantes devido à natureza estranha e muitas vezes desconexa da realidade da “lógica” por trás de rituais que os acometidos realizam a fim de aplacar a sensação ansiosa. E as ramificações desta doença são muito diversas, de modo que necessitam de um capítulo dedicado apenas a esse transtorno para que a ilustração do caso seja mais adequada.
A terapia cognitiva é uma das mais indicadas para o tratamento das síndromes graves de ansiedade. Busca identificar no modelo cognitivo de cada uma dessas variações (os padrões de pensamentos relacionados aos transtornos) as percepções do paciente a fim de modificar o modo disfuncional de interpretação dos eventos que causam os males já citados e os picos de ansiedade. Existem diversas técnicas tanto cognitivas, quanto comportamentais. Os primeiros resultados podem aparecer em pouco tempo de tratamento. Geralmente o uso de psicofármacos está associado ao tratamento dos transtornos de ansiedade, sendo quase um consenso de que a abordagem do problema deverá ser multidisciplinar com profissionais da psicologia e psiquiatria.




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